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2.2 A Importância da Consideração
Depois de ensinar sobre o mandamento apostólico de saber sobre sua atual realidade, Nee mostra que o apóstolo Paulo amplia seu pensamento, com base nesse trecho das Escrituras:
Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus (Rm 6. 8-11, grifo nosso).
A consideração exigida pelo apóstolo Paulo é para que os cristãos romanos dispusessem suas mentes para a realidade aprendida anteriormente. Um conhecimento formal a respeito de uma determinada doutrina não fará diferença alguma caso não seja experimentado de forma prática na vida do cristão. Uma vida contemplativa a respeito das verdades sagradas nunca foi o propósito de Deus para seu povo.
O ato de nos considerarmos deve basear-se no conhecimento do fato divinamente revelado, pois, de outro modo, a fé não tem fundamento sobre que descansar e apoiar-se. [...] Estou morto não porque me considero assim, mas por causa daquilo que Deus fez para comigo em Cristo — por isso considero-me morto. É este o verdadeiro sentido de considerar-se. Não se trata de considerar-se para se ficar morto, mas de considerar-se morto porque essa é a pura realidade (NEE, 1986, p. 39, 40).
Segundo Nee, Paulo nos ensina agora que faz-se conditio sine qua non considerar a verdade que antes fazia parte apenas do conhecimento. Ele esclarece que o mero saber, de que os pecadores foram incluídos na morte de Cristo, não é o suficiente. A fé nesta verdade deve ser experimentada pelo cristão, não obstante isso não ser automático. É por isso que o apóstolo Paulo ordena: “considerai-vos...”.
David Kuykendall, em sua obra Nossa identificação com Cristo, revela o mesmo parecer a respeito desta expressão:
A expressão traduzida “considerai-vos” é de teor contábil. Significa o dever de “tomar-se nota”, ou, em outras palavras, “fazer-se contabilidade”. Na linguagem do Novo Testamento grego, a palavra tem o significado de “assim proceder-se incessantemente”. Tem também a forma de mandamento. Uma tradução livre seria: “Estou ordenando a vocês que procurem continuamente fazer o lançamento na memória da importante verdade de que vocês já estão mortos para o pecado e vivos para Deus (KUYKENDALL, 1983, p. 48).
Anthony Hoekema, em seu livro O Cristão toma consciência de seu valor, também ressalta a importância de um regenerado considerar-se como nova criação.
Quando CRISTO morreu na cruz, o nosso velho homem – isto é, o nosso ser como um todo, dominado pela carne [o Princípio do Pecado] e o pecado [o ato em si] – foi morto com Ele. Isto significa que nós que estamos unidos com CRISTO pela fé não somos mais “velhos homens”. Nosso velho homem, ou velho ser, foi morto com CRISTO. [...] Perseverar nesta imagem [positiva], portanto, é uma questão de continuar crendo que o que a Bíblia diz a nosso respeito é verdade. E o que a Bíblia diz é que nós, que estamos em CRISTO, somos novas criaturas (HOEKEMA, 1987, p. 46, 102).
Ainda falando sobre a importância da consideração da obra de Cristo para a libertação do pecador, o Rev. Jair de Almeida Júnior faz um comentário de suma importância para a compreensão desta verdade:
A nosso ver, a forma objetiva está mais atrelada ao aspecto histórico da morte e ressurreição de Cristo, que causou a ruptura definitiva com Adão, a queda, e os poderes das trevas. A forma subjetiva está, aparentemente, mais ligada ao assumir por fé o novo padrão de criação, única evidência concreta da participação na regeneração do Espírito (ALMEIDA JÚNIOR, 2006, p. 160).
Almeida Júnior deixa bem claro que o fator objetivo da co-crucificação deve ser aceito pela fé, ou seja, considerado de forma verdadeiramente factual. Em Cristo, historicamente, o velho homem foi crucificado e todas as suas cadeias quebradas. A aplicação destes efeitos da crucificação na libertação do não-regenerado toma forma subjetiva quando ele entende esta verdade e a considera somente por meio da fé no sacrifício de Cristo e nas verdades das Escrituras.
Watchman Nee também apresenta algumas das ciladas usadas pela própria consciência para impedir este segundo passo na vereda do progresso cristão.
Nunca se esqueça que é sempre, e somente, verdade em Cristo. Se você olha para si próprio, não achará aí esta morte — é questão de fé nEle, de olhar para o Senhor e ver o que Ele fez. Reconheça e considere o fato em Cristo, e permaneça nesta atitude de fé. [...] O que é a fé? É a minha aceitação de fatos divinos, e seu fundamento sempre se acha no passado. O que se relaciona com o futuro é mais esperança do que fé, embora a fé tenha, muitas vezes, o seu objetivo ou alvo no futuro, como em Hebreus 11. [...] A fé faz com que as coisas que são reais [fatos objetivos], sejam reais na minha experiência [fatos subjetivos] (NEE, 1986, p. 41, 42, 46).
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