sábado, 18 de junho de 2011

O Cristão e a Pena de Morte

"Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda darás testemunho, acompanhando a maioria, para perverteres a justiça" (Ex: 23.2)

Agora virou festa! Não bastava a vergonhosa legalização da união estável entre homossexuais pelo Supremo Tribunal Federal, agora também querem a legalização da Maconha... daqui à pouco vem o aborto, o assassinato e por aí a "festa da iniquidade" se deflagra...

Deus, o Todo-Poderoso Soberano dos céus e da terra, convoca o Seu povo no Monte Sinai desta forma:  "Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus. Guardai os meus estatutos, e cumpri-os. Eu sou o Senhor, que vos santifico. [...] Se um homem tomar uma mulher e a mãe dela, é maldade; serão queimados no fogo, tanto ele quanto elas, >>PARA QUE NÃO HAJA MALDADE NO MEIO DE VÓS<<. [...] Guardareis, pois, todos os meus estatutos e todos os meus preceitos, e os cumprireis; a fim de que >>A TERRA<<, para a qual eu vos levo, para nela morardes, >>NÃO VOS VOMITE<<. E não andareis nos costumes dos povos que eu expulso de diante de vós; porque eles fizeram todas estas coisas, e eu os abominei. [...] Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes; nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo; >>NEM ANDAREIS SEGUNDO OS SEUS ESTATUTOS<<. Os meus preceitos observareis, e os meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu sou o Senhor vosso Deus." (Levítico 20.7-8, 14, 22-23 / 18.3-4)

O Texto é claro: A Pena de morte deveria ser aplicada em Israel como >>A<< forma de coibir o alastramento do pecado na nação, já que eles deveriam ser santos! Ah! Como seria maravilhoso se os cristãos modernos voltassem os seus olhos para este princípio! Quão magnífico seria ver o povo de Deus lutando contra o pecado e pela legalização da Pena de Morte, já que o próprio Deus a institui como >>O<< meio de coibir a iniquidade de toda uma nação. E olha que Deus não está falando de CONVERSÃO, mas COIBIÇÃO da "maldade no meio deles", ou seja, o afastamento de um povo das práticas totalmente abomináveis aos Puros Olhos de Deus. E, ainda que este povo adote leis que sejam contrárias as encontradas na Sagradas Escrituras, de modo algum devemos aceitá-las pois, como dizia irmão Agostinho, "uma Lei Injusta, não é Lei alguma!"

Estamos vivendo ante o progresso da Iniquidade! A nossa nação, bem como a grande maioria dos cristãos que nela habitam, estão cada vez mais caminhando rumo às velhas práticas encontradas em Sodoma e Gomorra, onde "tanto os moços como os velhos" eram totalmente devassos e sem escrúpulo moral algum! (Gn: 19.4)

Como, então, barrar este progresso? Pregação do Evangelho, sem dúvida, é o primeiro passo a ser tomado. Entretanto, existe uma segunda atitude que precisa ser, urgentemente, re-considerada: O MODO COMO OS CRISTÃOS VEEM A LEI VETERO-TESTAMENTÁRIA (Velho-Testamento).

Os cristãos modernos (pelo menos, a grande maioria) acham que, por não sermos uma teocracia, não devemos mais considerar a Lei Divina dada aos nossos antepassados como algo especial e de valia na sociedade atual. Na verdade, uns desconsideram quase que completamente a Lei dada no Sinai, como é o caso dos dispensacionalistas ("moderados" ou "exagerados"). Para redescobrirmos o valor e a importância da Lei Sinaítica para nós hoje, precisamos lançar mão de uma passagem que, ora ou outro, vêm sido utilizada pelos que são contrários ao Correto uso daquela Lei: João 8.1-11.


"Mas Jesus foi para o Monte das Oliveiras. Pela manhã cedo voltou ao templo, e todo o povo vinha ter com ele; e Jesus, sentando-se o ensinava. Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
Ora, Moisés nos ordena na lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse- lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé.
Então, erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém senão a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais."

Longe de discutir se o texto em questão faz parte do cânon ou não, quero trabalhar outro princípio ali. A situação é vergonhosa! Uma mulher é apanhada em flagrante adultério e os "fariseus e Escribas", já conhecidos inimigos do Senhor, trouxeram esta mulher para ser apedrejada porque, segundo eles, "Moisés ordena na Lei que as tais sejam apedrejadas". Será? Vejamos o que a Lei ensina para "que não houvesse maldade" no meio dos israelitas:

"O homem que adulterar com a mulher de outro, sim, aquele que adulterar com a mulher do seu próximo, certamente será morto, tanto o adúltero, como a adúltera." (Lv: 20.10)

Observe que ambos deveriam ser mortos! Mas o objetivo daqueles homens não era a prática imparcial da Lei, mas sim, tentar Jesus para "terem de que o acusar". E por que isso? Tais homens sempre foram invejosos e procuravam, dia e noite, ter com o que acusar Jesus para que este fosse condenado perante o império Romano. Eles fizeram isso com o tributo romano (Mt: 22.15-22) e agora estavam tentando acusá-lo numa das leis vigentes na época que, segundo as Escrituras, não permitia aos povos sob o domínio de Roma executarem ninguém a seu bel-prazer (João 18.31) porque, esclarece Donald Guthrie, "embora o sinédrio tivesse o poder de condenar um homem [ou, claro, uma mulher] à morte, exigia que ele obtivesse a sansão do governador".

Então vemos que a intenção deles não era a justiça prática da Lei Mosaica, mas sim, a aplicação parcial da mesma segundo seus próprios interesses. No desfecho da história, o Senhor revela respeito pela autoridade vigente (o império Romano) e nos ensina que, em tempos de "Antropocracia", devemos nos submeter as autoridades constituídas, assim como Paulo no ensina em Rm: 13.1-2, até onde estas respeitarem os princípios morais contidos na Sagrada Lei. Então, JESUS NÃO FOI CONTRA A PENA DE MORTE E POR QUE NÓS SERÍAMOS? SOMOS MAIORES QUE O NOSSO MESTRE?

Ele nunca deu sinais de que reprovava esta Lei, antes, Ele afirma:

"Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus [como no caso de João 8], de modo nenhum entrareis no reino dos céus." (Mateus 5.17-20)

Então, por favor, não desconsidere as palavras inspiradas que o SENHOR concedeu ao seu santo servo Moisés que "foi fiel em toda casa de Deus" (Hb: 3.5). Ainda que algumas daquelas leis tinham o seu valor apenas temporal pois tipificavam o sacrifício de nosso Senhor (Hb: 10.1), re-considere o valor que você tem dado àqueles preceitos, para a glória do nosso Deus.

Que o Espírito Santo nos conduza a uma alta e reverente apreciação de TODAS as Suas Sagradas Escrituras!

DEBATE COM ADVENTISTA - Parte 3


*Para retornar ao índice, clique Aqui*


3) Neste tópico o irmão Luciano havia argumentado que "a Ressurreição do Senhor, se deu no Domingo. Esse fato é relatado nos quatro evangelhos, destacando não somente o acontecimento, mas o dia do acontecimento." Repare que a ênfase do irmão é destacar que as ESCRITURAS, sendo totalmente inspiradas por Deus, destacam o dia do acontecimento e, como você disse, isso tinha que acontecer porque é a "ressurreição do senhor e como poderia ele ter ressuscitado no sábado, se viesse a fazer isso não estaria transgredindo o mandamento de seu pai que diz para descansar no sábado?" Será que JESUS realmente está preso ao SÁBADO em si? O próprio Cristo afirma: "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido." (Mateus 5.17-18). Todavia, Jesus Curou no Sábado (Mateus 12.9-14) e permitiu que seus discípulos colhessem espigas neste dia (Mateus 12.1-8) sendo que, a Lei Mosaica, já havia condenado um homem que estava "apenas" pegando lenha no dia de Sábado (Nm: 15.32-36). Será que Jesus havia desobedecido a SUA própria Lei? Não porque JESUS é o "Senhor do Sábado", bem como, de TODA A LEI. Então se alguém pode ampliar os conceitos desta, este alguém é JESUS, o Filho de Deus (Ver também Mateus 5 e o esclarecimento que JESUS faz das leis Vetero-Testamentárias sem, contudo, passar por cima delas). Por isso, eu discordo quando você diz que se JESUS tivesse ressuscitado no sábado ele estaria transgredindo o mandamento de seu pai!

Agora, quanto a questão de Jesus não falar sobre o Domingo como um dia Sagrado... eu também não ouvi ele falar a Páscoa foi substituída pela Santa Ceia e que não devemos mais comer ervas amargas ou matar o cordeirinho e etc. (POr favor, insisto novamente, se você achar UM texto em toda a Bíblia que confirma a transição "ipsis literis" (Literalmente), me mostre, não sou o Dono da Verdade). A questão é que nós descobrimos isso por inferência Bíblica, ou seja, ainda que não esteja LITERALMENTE revelado, nós entendemos pelo estudo de textos paralelos. No blog [do mcapologetico], você havia argumentado com o Luciano dizendo que "a páscoa continua sendo um memorial só que seu modo de celebrar mudou" ONDE EM TODA A ESCRITURA FALA QUE O SEU "MODO DE CELEBRAR" MUDOU??? É essa a argumentação do Luciano, se Jesus, que é o dono Da Lei, não disse: "A páscoa está sendo alterada no forma que será executada. Acabem com as ervas, deixem o cordeiro de lado, fiquemos apenas com o pão e o Vinho" (?????) Como afirmar que a Páscoa agora tem de ser comemorada de outro jeito? (não estou dizendo que a Santa Ceia não é a continuidade da páscoa, só estou afirmando que o que o argumento usado por você contra o domingo é refutável e banido pelo mesmo princípio usado na Santa Ceia)

O mesmo acontece com Paulo em 1 Coríntios 5: "Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado". Paulo não diz: "Parem de celebrar a Páscoa com ervas amargas e pães asmos" pelo contrário, ele dá subsídio para a prática da mesma, nos mesmos moldes judaicos (que tinham que lançar fora o fermento para comer apenas pães asmos durante uma semana - Lv: 23.4-8), quando diz: "Cristo, nossopesach (Passagem, em Hebraico)" Ou seja, ele está esclarecendo o PROPÓSITO da celebração (que é simbolizar a nossa Passagem da morte para a vida através de Jesus) e não alterando o FORMATO da mesma. Essa alteração nós fazemos por inferência textual e recorrendo aos textos paralelos, como o Domingo. Detalhe que se Cristo era "Cristão", então porque ele celebrou a Páscoa, já que era um ritual judaico para lembrá-los da libertação do Egito??? (ver Mt: 26:20-21 "Enquanto comiam [a páscoa]"). Novamente recorro à transição que estava acontecendo de igreja Judaico-Cristã para igreja totalmente Cristocêntrica.

A Revelação da Salvação em Cristo no Antigo Testamento - Capítulo 1

*Para acompanhar o estudo desde o início, clique Aqui*

1                   a esperança messiânica de israel



Para um correto entendimento sobre a redenção em Cristo no Antigo Testamento, é mister um breve esclarecimento sobre a origem e o significado correto do termo Messias.


1.1    origem do conceito judaico



A idéia de um homem com autoridade divina, que conduziria o povo de Deus a vitória contra Satanás é primariamente vista em Gênesis: 3.15, no texto comumente conhecido como proto-evangelho: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Infelizmente, a partir daí, por diversas situações e acontecimentos ocorridos em Israel (como as adversidades e crises na monarquia), o conceito messiânico do povo de Deus foi perdendo o foco bíblico (pelo menos em sua grande maioria) e foi sendo modificado gradativamente pelo conceito da tradição popular até chegar no conceito deturpado dos tempos de Jesus.
Segundo Van Groningen, o conceito de Filo (20 a.C. – 45 d.C.) retrata bem o ponto de vista judaico, nesta época, sobre o Messias: “O Messias seria um guia espiritual que possuiria atributos espirituais e qualidades éticas, mas também seria alguém que haveria de lutar e vencer e que possuiria, ao lado de esplêndidas qualidades da alma, uma grande força física.” (GRONINGEN, 1995, p.73).
Então o termo Messias, no conceito popular israelita, significava: “Deus mesmo reinando sobre o povo; Deus instituindo um seu representante; Um Messias nacional, restrito a Israel; Um Salvador que trouxesse salvação/solução [político-econômica] para o povo.” (FONSECA, 2010, p.14).
É por essa razão que o Senhor Jesus Cristo repreendeu Seus discípulos no caminho da aldeia de Emaús, após a ressurreição. Porque desacreditaram no conceito bíblico a respeito Dele para apoiarem suas próprias concepções baseadas na tradição! (Lc: 24.13-31)


1.2    definição correta do termo



O termo hebraico Messias, é derivado do termo Massah que significa ungir, e refere-se, estritamente, ao “ato de derramar óleo” (GRONINGEN, 1995, p.22).  Isso indica que a unção era geralmente praticada pelo derramamento ou aspersão de óleo sobre objetos ou pessoas. No caso específico das pessoas, existem profundas significações no Velho testamento por de trás deste ritual[1], todavia, nos limitaremos a apenas os significados concernentes ao assunto abordado.
Alguns exemplos essenciais estão registrados em Levítico: 8.12, 1º livro de Samuel: 10.1 e 1º Livro dos Reis: 19.16. No primeiro caso, Moisés está ungindo Arão como sacerdote para oficiar no tabernáculo; no segundo, o profeta Samuel está ungindo Saul como rei de Israel; e no terceiro, Deus ordena a Elias para ungir Eliseu como profeta em seu lugar.  Em ambos os casos o ato de ungir representava o comissionamento direto de Deus designando um indivíduo para exercer determinada função. Como disse Mettinger: “ser ungido é ter particular intimidade com o SENHOR”. (apud GRONINGEN, 1995, p.17). Ou seja, o “messias”, num sentido geral, era alguém que havia recebido autoridade do próprio Deus e havia sido separado por Ele para desempenhar uma função especial.
“Todos os três ofícios do Antigo Testamento - profeta, ministro [sacerdote] e rei – eram nomeados dessa maneira. [...], porém, [...] era uma nomeação primariamente usada para o cargo de rei.” (MARRA, 2009, p.1229). Desta forma, percebe-se que Cristo não foi apenas outro “messias” designado para uma determinada função, mas O Messias com autoridade e poder suficiente para o cumprimento de todos estes ofícios simultaneamente. (Zc: 6.9-13 / Dt: 18.15-19)


[1] As chamadas “unções purificadoras”, por exemplo, eram praticadas costumeiramente pelos judeus depois do recolhimento dos despojos de uma batalha (2ª Cr: 28.15).

A Realidade Natural de um Regenerado - Capítulo 1.2

*Para acompanhar o estudo desde o início, clique AQUI*

1.2    A inclusão na crucificação (Rm 5.12 – 8.39)



Prosseguindo com a argumentação iniciada no tópico anterior, verifica-se que na primeira seção da carta ao romanos, segundo Watchman Nee, Paulo nos ensina sobre os efeitos objetivos e subjetivos do sacrifício de Cristo quanto aos “pecados”. Nesta segunda seção, Nee revela que a questão a ser trabalhada agora pelo apóstolo não são mais os atos, mas o Princípio do Pecado que atua no homem decaído. As expressões a serem consideradas agora são Carne e Velho homem.
O homem tornou-se pecador. Anthony Hoekema deixa claro que “para ser um pecador é preciso trazer a imagem de Deus – é preciso ser capaz de raciocinar, querer, tomar decisões; um cachorro, que não possui a imagem de Deus, não pode pecar. O homem peca com os dons que o fazem semelhante a Deus” (HOEKEMA, 1999, p. 101).
A imagem de Deus no homem foi pervertida e todas as suas faculdades terrivelmente deformadas. Apesar de continuar a ser homem, sua vida agora não é regida por livre arbítrio, mas pelo Princípio do Pecado que atua nele. Vejamos a explanação de Watchman Nee a respeito deste assunto.

Sejam quais forem os pecados que eu cometo, é sempre o princípio do pecado que me leva a cometê-los. Preciso de perdão para os meus pecados, mas preciso também de ser libertado do poder do pecado. Os primei­ros tocam a minha consciência, o último a minha vida. Posso receber perdão para todos os meus pecados, mas, por causa do meu pecado [o Princípio do Pecado], não tenho, mesmo assim, paz interior permanente. [...] o Sangue soluciona o problema daquilo que nós fizemos, enquanto a Cruz so­luciona o problema daquilo que nós somos. O Sangue purifica os nossos pecados, enquanto que a Cruz atinge a raiz da nossa capacidade de pecar (NEE, 1986, p. 05,06).

Este é o fato que o autor de A Vida Cristã Normal faz questão de enfatizar em todo o seu livro. O problema do homem pós-queda não se restringe apenas às suas ações, porque, na verdade, estas apenas transparecem aquilo que é de sua natureza, de sua “nova” essência manipulada. Ele é escravo daquilo a que foi sujeito por seu representante (Adão) e, por isso, não pode negar sua real natureza. Ele está espiritualmente incapacitado para fazer o bem. Daí fazer-se necessária uma operação radical para libertá-lo de sua atual condição.
Na concepção de Watchman Nee, o homem não-regenerado é escravo de sua própria vontade (a Carne ou, como dito anteriormente, o Princípio do Pecado). Esta vontade o aprisiona e o faz viver “segundo as inclinações da [sua] carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos” (Ef 2.3). Este homem não consegue fazer outra coisa que não seja satisfazer o princípio pecaminoso que rege sua vida. O problema não é apenas o pecado cometido, mas uma vida que só vive para pecar, satisfazendo as vontades do Princípio do Pecado!
Para a libertação deste homem, Paranaguá declara que o SENHOR teve de intervir de modo radical. Teve de libertá-lo de sua própria essência.

[...] a cruz é o único instrumento capaz de eliminar as raízes firmes e profundas [da Carne]. [A Cruz] é o instrumento cirúrgico que, amputando o pecado arrogante do ímpio e imputando a justiça singular do santo, restaura a glória perdida na queda em razão da presença do pecado na experiência do homem. [...] De fato, o grande milagre do evangelho é a remoção do pecado por meio da cruz, o perdão dos pecados por meio do sangue (PARANAGUÁ, 2002, p. 42, 43).

A remoção do pecado citado por Paranaguá não se trata da destruição do Princípio do Pecado no homem, mas da libertação do mesmo. Esta verdade precisa estar bem clara para a progressão em nosso estudo. O sangue representa o perdão dos pecados; a inclusão espiritual na cruz de Cristo e participação na Sua morte representa a libertação do Princípio do Pecado – a Carne – e não a destruição instantânea do mesmo.

Precisamos do Sangue pa­ra o perdão, e precisamos da Cruz para a libertação. [...] O Sangue pode lavar e tirar os meus pecados, mas não pode remover o meu "velho-homem". É necessária a Cruz para me crucificar. O Sangue trata dos pecados, mas a Cruz trata do pecador! [...] O Sangue nos perdoa pelo que fizemos; a Cruz nos liberta daquilo que somos (NEE, 1986, p. 19, 20, 21).

O que foi destruído na cruz foi o Velho homem, o escravo da Carne. Deus enviou seu Filho ao mundo não apenas para mudar o status forense da humanidade perante si - segundo Nee, isso é feito pelo Sangue - mas para transformá-la em uma nova criação aqui neste mundo - pela co-crucificação dela mesma com Cristo. “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. [...] E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5. 14,17).

Quando o Senhor Jesus estava na Cruz, todos nós morremos [objetivamente] — não indivi­dualmente [subjetivamente], porque ainda nem tínhamos nascido — mas, estando nEle, morremos nEle. "Um morreu por todos, logo todos morreram”. Quando Ele foi cru­cificado, todos nós fomos crucificados [no sentido espiritual] (NEE, 1986, p. 25, 26).

É em torno desta doutrina que gira todo o pensamento de Watchman Nee. A inclusão do pecador na morte de Cristo foi objetiva, ou seja, realizada no momento da crucificação do Jesus histórico. A aplicação dos efeitos desta obra na vida do pecador é subjetiva, ou seja, realizada no momento em que o pecador é regenerado pela ação do Espírito Santo.

Desafio qualquer pessoa a en­contrar um texto no Novo Testamento que nos diga ser futura a nossa crucificação. Todas as referências a ela se encontram no tempo aoristo do Grego, tempo que signi­fica "feito de uma vez para sempre", "eternamente pas­sado" (ver Rm 6.6, Gl 2.20; 5.24). E como um homem não poderia se suicidar nunca pela crucificação, por ser fisicamente impossível, assim também, em termos espi­rituais, Deus não requer que nos crucifiquemos a nós próprios. Fomos crucificados quando Ele foi crucificado, pois Deus nos incluiu nEle na Cruz. A nossa morte, em Cristo, não é meramente uma posição de doutrina, é um fato eterno (NEE, 1986, p. 26).

Os efeitos desta inclusão só se tornam experiência no homem quando este é regenerado pelo Espírito Santo e, assim, tem a Imago Dei restaurada em sua vida.
Com base nos argumentos bíblicos acima apresentados, Watchman Nee revela que a justificação do pecador tem dois aspectos distintos: perdoar as ações pecaminosas cometidas por este na sua “Velha Vida” e fornecer um meio para que a “Nova Vida” seja implantada nele pela regeneração.
Todavia, o autor de A Vida Cristã Normal deixa claro que estas não são as únicas questões a serem observadas. Ele ainda adverte que o cristão deve progredir tomando alguns passos para que experimente a realidade natural de um regenerado, assunto a ser abordado a partir de agora.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

MILENISMO FORENSE, Uma Nova Perspectiva!

O QUE É?


R: É uma crença que interpreta o milênio como parte do grande dia de juízo, o último dia. Aceita que a leitura de Apocalipse 20 é uma sequencia cronológica do capítulo 19. Acima de tudo é uma leitura simples desses dois capítulos.

É O MESMO QUE O PRÉ-MILENISMO?

R: Apenas no sentido que a volta de Cristo se dará antes desses 'mil anos'. O Milenismo Judicial não compartilha da ideia pré-milenista histórica nem dispensacionalista no que diz respeito a natureza desse milênio. Nesse sentido seríamos um tipo de amilenismo, pois não cremos que tal período será um meio termo entre uma terra de pecado ainda, com o governo de Cristo.

SERÃO OS MIL ANOS, LITERAIS?

R: Não existe tal preocupação no Milenismo Judicial, pois os números de anos em Apocalipse representam 'tempo marcado', período garantido.

QUAL A NATUREZA DO MILÊNIO NESSA ÉPOCA?

R: Um tempo dentro do dia do Juízo destinado aos santos, para reinar julgando (Mt 19.28). Não existe outro aspecto apresentado na Escritura sobre a natureza desse tempo.

COMO O DIA DO JUÍZO SE RELACIONA COM ESSA INTERPRETAÇÃO?

R: Pensamos que o Dia do Juízo inicia-se com a volta de Cristo (Mt 25. 31,32). Ao observarmos Ap 19.11 até 20.15 chegamos a conclusão que esse é O Dia do Juízo. E os Mil anos está dentro desse tempo.

ESSA POSIÇÃO CONTRARIA A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER?

R: Os nossos símbolos não se posicionam sobre o milênio. Assim, a CFW não é nem *Amilenista. Alguns teólogos da Assembleia de Westminster seriam, anacronicamente, classificados mais como pós-milenistas do que amilenistas. E os aspectos que nos interessa na CFW, seria o que ela diz sobre o Dia do Juízo, e nessas partes a CFW não nega o julgamento que os santos executarão. O Catecismo Maior diz na pergunta e resposta 90: “O que acontecerá aos santos no dia do juízo?R: [...] se unirão com ele [Cristo] para julgar os répobros, anjos e homens [...]”


Luis Filipe e Luciano Sena

*Quero lembrar que o Amilenismo é uma interpretação nova. 'Talvez' tenha ganhado força com o declínio do pós-milenismo quando este enfrentou a realidade das duas grandes guerras, ou mesmo quando o nojento hálito da teologia liberal assolou os seminários teológicos, 'enfraquecendo' a força do Evangelho, substituindo-o por filosofias e projetos sociais. O Amilenismo tem grandes vantagens sobre os demais sistemas de interpretação do milênio. Mas ele também está confuso com a natureza da primeira ressurreição. Existe Amilenista que diz que a primeira ressurreição é a regeneração, esses estão com Agostinho, e possuem alguma vantagem visto que o NT por vezes chama a regeneração de 'ressurreição'. Porém, a passagem não deixa dúvida que tal ressurreição vem após a morte como cristãos, eles já eram regenerados antes dessa ressurreição! Existe também Amilenista que insiste que essa é a transladação da alma do crente quando ele morre. Parece que Calvino pensava assim. No entanto, qual a base bíblica que se apresenta para defender que o estado intermediário é uma ressurreição?


Um comentário de todo Apocalipse 20, com essa perspectiva, já está pronto, passando por algumas revisões. Em breve postarei.

DEBATE COM ADVENTISTA - PARTE 2

*Para retornar ao índice, clique Aqui*


2) Neste tópico o irmão Luciano havia argumentado que "Os relatos sobre os sábados no NT estão ligadas aos Judeus e não aos Cristãos." Então você se utilizou de um texto que falava do sepultamento do SENHOR e disse "Maria não era cristã depois da morte de Cristo?" Eu discordo, ela era cristã até antes da morte, pois já cria no poder do unigênito Filho de Deus (João 2.5). Mas, voltemos a questão em pauta: Se, Maria, que era cristã guardava o Sábado, porque não devemos guardá-lo? Eu respondo com outra pergunta: Se, Paulo, que era cristão, e já havia falado as Gálatas 5.1-3 que os cristãos não necessitavam de circuncisão como os judeus, porque então ele manda Timóteo, que era cristão, se circuncidar: "Paulo quis que este fosse com ele e, tomando-o, o >>CIRCUNCIDOU<< por >>CAUSA DOS JUDEUS<< que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego." (At: 16.3) Será que as Escrituras se contradisseram? Sabemos que não e, por isso, a própria Bíblia nos explica o que estava acontecendo: Era um período de transição (Leia a decisão do concílio de Jerusalém em Atos 15 para verificar como a igreja Cristã estava em processo de formação). Daí se verificar que alguns judeus, ainda exerciam alguns costumes da Lei Judaica, pois o período era transitório (JUDAÍSMO PARA CRISTIANISMO) e, para alcançá-los com a mensagem do evangelho, seria necessário ainda adotar alguns costumes da Lei Cerimonial mosaica para ter acesso à eles (1a Coríntios 9.19-20) . Agora, em nenhum outro lugar do NOVO TESTAMENTO, depois da ressurreição, você vê maria ou algum outro Judeu convertido ao cristianismo guardando o Sábado para ATIVIDADES CELEBRATIVAS, a não ser por motivos missionários, como mencionei acima. (Por favor, não sou o Dono da verdade, então se você encontrar algum texto que mostre o contrário, compartilhe).

E a aí você utiliza novamente o texto de At: 17.3 e comete a mesma negligência do contexto imediato como no primeiro argumento. Quanto a análise do contexto de Atos 17:3, verificar o tópico acima. (Continua Amanhã)

O Dízimo ainda é Lei? - Rousas Jhon Rushdoony

Antes de prosseguir em nosso estudo do dízimo, é necessário discutir brevemente as objeções ao dízimo. Há muitos que sustentam que o dízimo não é mais obrigatório, mas foi abolido, juntamente com o restante da lei, pelo grande fato “divisório” na história, a cruz. Essa posição, sempre que defendida, reside em uma forma de dispensacionalismo. Ela divide as Escrituras em duas ou mais eras que são totalmente diferentes, até mesmo quanto à maneira de salvação em alguns casos, e sustenta que a lei é agora inválida, pois estamos debaixo da graça.
A salvação, contudo, em toda a Escritura é pela graça soberana de Deus somente. O homem nunca foi salvo pelas obras da lei em nenhum momento da história. A Escritura não nos dá dois planos de salvação, mas somente um. Antes da vinda de Cristo, a salvação pelo seu sacrifício vicário foi anunciada no sistema sacrificial. O homem era salvo, não pelas obras, mas pelo sangue expiatório do Cordeiro, anunciado antes de sua vinda através do sacrifício de animais sem defeito. O crente colocava suas mãos no animal a ser sacrificado, confessava os seus pecados, e agradecia a Deus por prover o sacrifício vicário do inocente para a sua salvação. A lei não salvou nenhum homem, seja no Éden, em Israel ou na igreja. A lei anuncia a justiça de Deus. Ela é o Código Santo, o caminho da santidade ou santificação. Ela declara que essa é a vida da fé, a vida de obediência: essa é a forma de servir a Deus.
O caminho da salvação não varia na Bíblia: é sempre pela graça soberana. O caminho da santificação não muda na Bíblia: é pela obediência à lei de Deus. O dispensacionalismo, quer em suas formas moderadas ou extremas, faz violência ao significado e unidade da Escritura.
Aqueles que negam a lei o fazem supostamente em nome de um caminho “mais sublime” agora aberto aos cristãos. Dessa forma, certo dispensacionalista, Pieter A. Verhoef, escreve:
A lei declara um dia dentre sete para ser santo ao Senhor – o Espírito santifica todos os sete. A lei separa uma tribo das doze para servir como sacerdotes – o Espírito declara toda a congregação como sendo sacerdotes (1 Pedro 2.9). A lei exige a décima parte das possessões – o Espírito nos translada para nos tornarmos possessão de Deus com tudo o que temos, cem por cento. Tudo pertence a ele. Somos seus despenseiros, que darão conta de cada centavo que possuímos.
Dessa forma, para Verhoef, o dízimo não é lei para nós! Mas essa é uma declaração chocante da parte de um professor de Antigo Testamento! Examinemos seus comentários. Primeiro, há uma suposta diferença entre a era da lei e a era do evangelho, para usar esses termos comuns mas ilegítimos, no fato que “a lei declara um dia dentre sete para ser santo ao Senhor – o Espírito santifica todos os sete”. Como assim? A lei é enfática, repetidamente: “Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2). S. Pedro simplesmente repete a lei, declarando:
Segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. (1 Pedro 1.15-16)
Em toda a Escritura, requer-se que toda a nossa vida, dias e atividades sejam santos: não há diferença aqui entre o Antigo e Novo Testamento. Um dia dentre sete deve ser separado para descanso, mas todos os sete devem ser devotados à santidade, todos devem ser santificados ao Senhor e pelo seu Espírito. Verhoef confunde as ideias de descanso e santidade; elas são ideias relacionadas, mas claramente separadas. Não somente o descanso, mas o trabalho também deve ser santo.
Segundo, Verhoef diz: “A lei separa uma tribo das doze para servir como sacerdotes – o Espírito declara toda a congregação como sendo sacerdotes (1 Pedro 2.9)”. Essa é uma declaração impressionante; impressionante em sua desonestidade e falsidade. Certamente Verhoef sabe que aqui Pedro também está citando a lei! Observe o que o Antigo Testamento declara, e como Pedro resume isso:
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. (Ex 19.5-6)
Mas o SENHOR vos tomou e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, para que lhe sejais povo de herança, como hoje se vê. (Dt 4.20)
Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. (Dt 7.6)
Porque sois povo santo ao SENHOR, vosso Deus, e o SENHOR vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio. (Dt 14.2)
E o SENHOR, hoje, te fez dizer que lhe serás por povo seu próprio, como te disse, e que guardarás todos os seus mandamentos. Para, assim, te exaltar em louvor, renome e glória sobre todas as nações que fez e para que sejas povo santo ao SENHOR, teu Deus, como tem dito. (Dt 26.18-19)
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. (1 Pedro 2.9)
Ser um povo santo significa ser um povo separado, um povo dedicado ou sacerdotal. Isso o Antigo Israel era e isso o Novo Israel de Deus é. Então um clero profissional existia e hoje existe um também. O que Ex 19.6 diz, 1 Pedro 2.9 repete. Nosso futuro é de fato cruel, e o julgamento de Deus certo, quando a igreja tem como seus eruditos “fieis” e “reformados” homens como Verhoef.
Terceiro, Verhoef diz:
A lei exige a décima parte das possessões – o Espírito nos translada para nos tornarmos possessão de Deus com tudo o que temos, cem por cento. Tudo pertence a ele. Somos seus despenseiros, que darão conta de cada centavo que possuímos.
Essa é uma obra-prima, mas não da graça! A recusa em dizimar é transformada numa virtude, como um sinal que de alguma forma, sonegando o nosso dízimo, estamos dando ao Senhor tudo! Já vimos que Dt 4.20 fala de Israel como a herança ou possessão de Deus; Dt 14.2 como um povo único ou peculiar ao Senhor, isto é, como sua propriedade, e assim por diante. Em toda era, os eleitos de Deus são sua possessão no sentido mais pleno da palavra.
Mas isso não é tudo. Certamente um professor de Antigo Testamento deveria saber que os primeiros frutos e o dízimo representam a dedicação de toda a colheita e de toda a nossa renda, pessoa e vida ao Senhor. O fato de dar os primeiros frutos, as primícias do rebanho e o dízimo, não o resto mas a primeira porção ao Senhor, significa a dedicação de tudo ao Senhor.
Em um ponto Verhoef está correto: somos “possessão de Deus com tudo o que temos, cem por cento. Tudo pertence a ele. Somos seus despenseiros, que darão conta de cada centavo que possuímos”. Precisamente, e esse é o motivo de Deus requerer de nós o dízimo, nossos primeiros frutos. Sua reivindicação sobre nós é primeira e total. Reconhecemos essa reivindicação ao dar a Deus o dízimo que ele requer de nós pela lei. Se damos a ele a prioridade em nossas vidas, tempo, trabalho e renda, então temos de fato manifestado por meio disso que somos verdadeiramente sua possessão. Se negamos a ele o seu dízimo, então nossa profissão de fé é vazia.
Sou normalmente um homem dado à hospitalidade nos termos bíblicos. Fundamento na Escritura, ordenei que um homem deixasse a minha casa ano passado. Ele chegou ao clímax de suas exposições de farisaísmo ao declarar que acreditar em ser totalmente do Senhor, e que acreditava no princípio do dízimo, mas não na “prática legalista” dele. Perguntei quando ele dava, e ele recusou responder, mas tornou-se aparente pelas respostas de sua esposa que ele não dava quase nada!
Podemos crer em Jesus Cristo como Senhor e Salvador em princípio, mas não na prática? Podemos crer em sermos fieis às nossas esposas em princípio, mas não na prática, sem sermos mentirosos ou hipócritas? Podemos declarar que somos do Senhor em princípio, sem a prática do dízimo, e ainda estarmos em seu favor? Não posso crer nisso.
Fonte: Capítulo 3 do excelente livro “Tithing and Dominion”, futuro lançamento da Editora Monergismo.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto. Outubro/2010.
Disponível em http://monergismo.com/?p=2653

A quem Dizimamos? - Rousas Jhon Rushdoony

Ao escrever isso, faço-o logo após jogar uma carta na lareira, para ser queimada como algo imundo. O escritor, um estranho total, exigiu saber o porquê eu acredito que os “crentes do Novo Testamento” devem dizimar. De alguma forma para ele é uma marca de apostasia alguém acreditar que seja o nosso dever obedecer ao Senhor. Para ele, dízimo é uma marca da Besta, um sinal de farisaísmo, romanismo e todo outro tipo de mal que ele pode imaginar! Não somente isso, mas todo o seu veneno é visto como zelo pelo evangelho. Para tais pessoas, as palavras de Paulo em 2 Coríntios 11.13-15 são muito apropriadas. Não adianta fazê-los lembrar das palavras do nosso Senhor: “É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei” (Lucas 16.17). Eles acham mais santo dar livremente para si mesmos e escassamente ao Senhor. Mas como Lansdell escreveu, nosso Senhor foi enfático ao dizer que nossa justiça deve exceder aquela dos escribas e fariseus, caso contrário não entraremos no reino dos céus (Mt 5.20). Como nossa justiça ou cumprimento da lei excederá aquela dos escribas e fariseus? Primeiro, considerando a lei com seriedade, e não evasivamente, não mediante um esforço por obediência formal, que constitui uma zombaria para com a lei; segundo, vendo o pleno significado da lei para o coração, mente e ações dos homens. Nas palavras de Lansdell:
Jesus Cristo não promulgou novamente aos cristãos, a partir do Sinai do Novo Testamento, a lei contra o assassinato, ou adultério, ou qualquer outra lei; mas para mostrar a natureza obrigatória e espiritual da lei mosaica, e seus princípios bem abrangentes, ele ensinou que esses mandamentos podem ser violados por uma palavra irada, ou mesmo por um olhar pecaminoso. Nem o Senhor promulgou novamente que os seus seguidores deveriam pagar um dízimo patriarcal, um dízimo levítico, um dízimo festivo, um maaser, ou qualquer outro; mas tão longe estava ele de repelir a lei concernente aos dízimos, ou rebaixar as reivindicações de Deus sobre a propriedade, que ele apresentou diante daqueles que seriam os seus seguidores um cumprimento mais completo da lei de Deus; e um ideal bem mais elevado, deixando entesouradas na memória dos seus ouvintes aquelas palavras memoráveis: “Mais bem-aventurado é dar que receber.” (Atos 20.35); e proclamando a cada um dos seus supostos seguidores: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.33). (p. 126)
A reivindicação de Deus sobre propriedade, pessoas, tempo e todas as coisas mais é total; é por sua graça e misericórdia que ele pede que os dízimos e ofertas sejam dados a ele, e o restante seja usado por nós como membros fieis do seu pacto.
Dessa forma, a pergunta “a quem dizimamos?” já foi respondida: ao Senhor. A Escritura declara que nossos dízimos devem ser “santos ao Senhor” (Lv 27.32), isto é, devem ser separados para ele e sua obra e requerimentos. O dízimo não pertence à igreja ou a alguma agência cristã, embora possa ser dado a elas. Não importa em que mãos esteja, ele pertence ao Senhor.
Quando os levitas eram piedosos, Israel pagava os seus dízimos aos levitas, mas, mesmo então, o dízimo pertencia ao Senhor e poderia ser dado diretamente à causa que o dizimista considerava ser fiel. Dessa forma, em tempo de apostasia, um homem de Baal-Salisa trouxe as suas primícias diretamente a Elias e os seus seguidores (2 Reis 4.42-44). Os levitas não eram uma instituição, mas homens separados para o serviço do Senhor.
Visto que o dízimo é “santo ao Senhor”, é o nosso dever como dizimistas julgar que igreja, grupo missionário ou agência cristã é mais claramente “santa ao Senhor”. O dízimo em si não é para o Senhor se o dízimo for para agências ímpias, extravagantes ou mediocremente eficazes. Dessa forma, o Senhor nos considera responsáveis pelo uso do seu dinheiro, assim como considera o recebedor dele plenamente responsável também.
Isso significa que temos o dever de dar sabiamente. Precisamos estudar tanto a fidelidade como a eficácia de toda agência a qual pretendemos dizimar. Ela é eficaz em nossas vidas e na vida dos outros? Ela usa o dinheiro sabiamente?
O uso sábio do dinheiro não significa usá-lo de forma miserável nem extravagante: é um uso eficaz. Algumas pessoas parecem sentir que há uma virtude especial na pobreza, e preferem causas missionárias que mantém os missionários na beira da pobreza. Isso está em violação de 1 Timóteo 5.17. Um missionário me falou de uma missão que pagava seus missionários ineficazes tão bem que eles estavam em nível de riqueza naquele país estrangeiro. Ao mesmo tempo, outra agência enviou seus missionários “pela fé” e pagava-os tão pobremente que ele e sua esposa acharam necessário dar-lhes comida para que não morressem de fome.
Igualmente, a um pastor eficaz e que trabalhava duro foi negado um aumento muito necessário. A razão veio da reunião do conselho. Um membro-chave do conselho, um homem invejoso e que fracassara em um emprego após outro, mas um membro santarrão e ativo na igreja, lutou amargamente para impedir o aumento, declarando: “O pregador então ganhará mais dinheiro do que eu. É o seu serviço se sacrificar por causa do Senhor”. Esse tipo de raciocínio ímpio é muito comum. Em escolas cristãs, espera-se regularmente que professores “se sacrifiquem” aceitando salários imoralmente baixos, para que os pais possam evitar sacrificar algo. Porque o trabalhador é digno do seu salário (Lucas 10.7), privar um professor de uma escola cristã do seu salário devido a fim de subsidiar um pai e o seu filho é simplesmente roubo. Deus não honra ladrões, e a maioria dos pais em escolas cristãs são ladrões.
Portanto, cuidado com agências que não tratam os trabalhadores de Deus honestamente. Uma estação de televisão “cristã” regularmente paga mal ou simplesmente deixar de pagar os seus empregados, enquanto expande continuamente algum aspecto de suas facilidades e promoções. Os membros do seu conselho são ladrões. Estão usando incorretamente o dinheiro de Deus e roubando os trabalhadores do Senhor.
Dessa forma, a igreja ou agência dever ser uma que obedeça ao Senhor. Ela evita a dívida? Ela empresta ou toma emprestado de crentes com juros ou usura? Ela proclama todo o conselho de Deus? Relatórios financeiros são publicados anualmente? Eles são compreensíveis? Quanto de sua atividade é promoção, e quanto é ação?
Ela é eficaz? Há alguns anos, numa tempestade violenta, eu falei numa cidade a um grupo de cinco pessoas; seguiram-se alguns resultados notáveis. Uns poucos dias depois, falei a mil e cem pessoas, com uma boa recepção, mas nenhum resultado. Aprendi rapidamente que algumas atividades parecem impressionantes, mas produzem pouco; o importante não é semear a semente em mil acres estéreis; antes, é bem melhor semear mesmo que seja num único acre, mas fértil. É uma boa relação pública falar e trabalhar com grupos grandes e impressionantes, mas a obra do Senhor não é relações públicas, “mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14.17).
Finalmente, somos informados que o Senhor “ama a quem dá com alegria” (2Co 9.7). S. Paulo não estava falando sobre dízimos aqui, mas mais do que isso: uma oferta especial para aliviar a fome de santos em necessidade e sofrimento. A palavra traduzida como “alegria” é literalmente, no grego, hilário. Por que deveríamos, em nossos dízimos e ofertas, ser hilários ou alegres ao pagar e dar? A palavra fala de felicidade, de espíritos felizes e regozijantes, e com boa razão. Os impostos que pagamos aos homens são em grande parte desperdiçados, e os seus resultados são perversos. Quando damos ao Senhor, nenhuma palavra, ato ou centavo é em vão (1Co 15.58). Deus ordenou que sua palavra não retornará para ele vazia, mas cumprirá aquilo que lhe agrada, e prosperará em seu propósito ordenado (Isaías 55.11). Isso significa que, quando damos ao Senhor, damos eficazmente. Todo o nosso dízimo e oferta é poderoso para remoção das coisas que existem, e para o estabelecimento daquilo que pode permanecer, aquilo que é do Senhor (Hb 12.27). Estamos ajudando a financiar a vitória de Deus por meio dos seus servos. Isso é de fato algo hilário: significa que podemos fazer tanto a nossa vida como o nosso dinheiro contarem para o Senhor.
Fonte: Capítulo 7 do excelente livro “Tithing and Dominion”, futuro lançamento da Editora Monergismo.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto. Outubro/2010.
Disponível em http://monergismo.com/?p=2658

Livros gratuitos de Rushdoony

Boas novas! A Chancedon Foundation está disponibilizando os livros do grande R. J. Rushdoony para leitura online. É um ótimo recurso, enquanto aguardamos a Editora Monergismo publicar as suas obras em português.

América
Apologética / Cosmovisão / Cultura / Filosofia
Comentários Bíblicos
Educação
Economia
Estudos sobre a Lei de Deus
História
Política

Teologia


Disponível em http://monergismo.com/?p=3008

Manifesto Presbiteriano contra a PL - 122


Rev. Roberto Brasileiro, Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana participou do Programa Verdade e Vida, respondendo questões sobre a polêmica Lei da Homofobia, conhecida como PL 122, que traz discussões sérias dentro das Igrejas cristãs reformadas.

No Programa, dirigido pelo Presbítero Daniel Sacramento, Rev. Roberto Brasileiro respondeu a algumas perguntas que refletem a preocupação da comunidade presbiteriana, e esclareceu fatores de importância fundamental na defesa da fé cristã e orientação Bíblica.

Já no início do programa, Rev. Roberto declarou que não há sustentação Bíblica, ou mesmo na história da humanidade, para o casamento homossexual. “Deus quando criou o homem, Ele estabeleceu o homem masculino, a mulher feminina, e determinou que deveriam se unir, se tornar uma só carne e a partir daí a raça humana teria seu desenvolvimento natural. À luz das Escrituras Sagradas, a relação homoafetiva é uma relação pecaminosa, porque ela destrói a própria natureza da pessoa, ela elimina a possibilidade da pessoa exercer a vida dentro do princípio criacional estabelecido por Deus”.

Na questão da PL 122, o Presidente do Supremo Concílio da IPB disse que mesmo respeitando as liberdades de escolha, a Igreja não pode aceitar a institucionalização de um ato pecaminoso. “Se aceitarmos, nós estamos dizendo que é possível vir a abençoar, e isso não é possível. Não podemos aceitar porque contraría o princípio bíblico, um principio criacional e um princípio de formação de família. Então, a igreja ficará sempre diante de uma situação de desobediência completa ao Estado, pois, se o Estado tomar essa decisão, a Igreja dirá ‘nós não podemos acatar uma decisão que determine que haja essa união’, porque nós não podemos abençoar essa união”.

Muitos presbiterianos que acessam os canais de comunicação da IPB têm manifestado sua posição no que diz respeito à PL 122. Para Rev. Roberto Brasileiro, essa atitude deve mesmo permanecer, porque cada cidadão cristão tem o direito de defender, civilizadamente, sua fé e princípios.

“A igreja tem que ter a ousadia de pagar o preço de ser Igreja e de cumprir a sua vida ministerial. A IPB adota como sua posição oficial a não aceitação de casamento homoafetivo. Para nós, nenhuma relação homoafetiva pode ser aceita, é um ato pecaminoso, contrário aos princípios bíblicos e doutrinários de nossa Igreja”, defende Rev. Roberto.

Quando questionado sobre o papel do cidadão neste momento, Rev. Roberto conclama os cristão a cobrar de seus canditatos eleitos, um retorno que responda às expectativas da Igreja. “Eu creio que a Igreja deve orar e deve manifestar a sua vontade aos candidatos eleitos pelo voto dos cristãos, seja esse candidato evangélico ou não. Devemos mandar e-mails e devemos mostrar à sociedade a nossa posição e o porquê dessa nossa linha de ação”.

Para o apresentador Daniel Sacramento, a posição da IPB é muito importante para nortear os presbiterianos para que permaneçam em seus princípios. “Nós não negociamos princípios, não negociamos os princípios da palavra de Deus”, conclui.

Manifesto Presbiteriano


Em abril de 2007, Rev. Roberto Brasileiro escreveu uma carta intitulada Manifesto Presbiteriano, em que defendia os princípios da IPB diante da criminalização da homofobia. No Portal IPB é possível encontrar o texto na íntegra, mas a seguir, o leitor terá acesso aos trecho específicos sobre o assunto.

II – Quanto à chamada LEI DA HOMOFOBIA, que parte do princípio que toda manifestação contrária ao homossexualidade é homofóbica, e caracteriza como crime essas manifestações, a Igreja Presbiteriana do Brasil repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre o homossexualidade como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos.

Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna em 1988 já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Presbiteriana do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, “. . . desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam quea prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1Coríntios 6:9-11).

Ante ao exposto, por sua doutrina, regra de fé e prática, a Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualidade não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.

Portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil não pode abrir mão do seu legítimo direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo.

Patrocínio, Minas Gerais, abril de 2007 AD.
Rev. Roberto Brasileiro
Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil

Disponível em http://resistenciaprotestante.blogspot.com/2011/05/manifesto-presbiteriano-pl-122.html

O Trabalho escravo e a Lei de Deus - Rousas John Rushdoony

Um dos erros mais prevalecentes é a tendência de considerar a escravidão como um aspecto basicamente da história passada, sobrevivendo no século vinte apenas como uma relíquia. Mas a escravidão, um fato importante em toda a história, não é um fato consumado. A escravidão é um fato importante da condição humana, um fator contínuo, e um aspecto inescapável do presente cenário.
Três formas de escravidão devem ser distinguidas. Mas, antes dessas formas poderem ser analisadas, é importante definir em primeiro lugar o que é escravidão. A definição comum é que escravidão é “a propriedade do homem sobre o homem”. Essa definição, contudo, como John Murray assinalou, é defeituosa; além do mais, casamento e paternidade, bem como os poderes de um Estado sobre os seus cidadãos, envolve uma propriedade do homem sobre o homem. Mas a definição é muito ampla, e evita o aspecto básico da escravidão, o trabalho. De acordo com Murray, “escravidão é a propriedade do homem sobre o trabalho de outro”. Sob certas condições, tal propriedade no trabalho de outro é apropriada e legítima. “Acaso vamos dizer que é impróprio o credor ter propriedade no trabalho do devedor até que a dívida seja paga?” Além disso,
A propriedade de alguns homens sobre o trabalho de outros e a propriedade de instituições no trabalho daqueles que estão associados com elas é algo do qual não podemos nos livrar. O empregador tem propriedade sobre o trabalho de seus empregados; a presença de contrato não elimina esse fato. Uma vez que o contrato é celebrado, o trabalhador está obrigado a realizar o trabalho como contratado. O Estado tem propriedade sobre o trabalho dos cidadãos. Nesse caso não é por contrato; é uma necessidade inerente na instituição. Às vezes, um grande número de cidadãos são compelidos, durante muito tempo, a prestar serviço e tempo integral ao Estado sob condições muito mais rigorosas, e envolvendo muito mais risco à vida e à propriedade, que as condições em que os escravos podem ser chamados a servir aos seus senhores. Não é necessário multiplicar os exemplos. Propriedade sobre o nosso trabalho por parte de outros é um fato da nossa estrutura social. E não devemos ser ingênuos a ponto de pensar que podemos abstrair nosso trabalho das nossas pessoas. Se outro tem propriedade sobre o nosso trabalho há um ponto em que, ou um aspecto do qual isso deve ser considerado como propriedade sobre nossas pessoas. E sabemos muito bem que isso não é violação do nosso ser, personalidade, direito ou privilégio. É uma necessidade da nossa natureza e da organização social da raça humana. Não há necessidade de pensar que a propriedade de outro sobre o nosso trabalho ou, nesse ponto, sobre a pessoa envolvida nessa relação de serviço, seja uma violação do que é intrínseco à personalidade, e somos capazes de ver a limitação que o Novo Testamento faz, ditada pelos princípios dos quais a Escritura é o guia.[1]
Em termos dessa definição, examinemos as três formas de escravidão, em primeiro lugar, na forma de propriedade privada de escravos.
Na forma bíblica, a escravidão era uma forma de serviço obrigatório. O termo “servo” ou “escravo” era usado para descrever qualquer pessoa que devesse serviço a outra pessoa, permanente ou temporariamente. Dessa forma, Davi e Daniel se descreveram como servos de Deus (Sl 27.9; Dn 9.17), e a virgem Maria descreveu-se como “a serva do Senhor” (Lucas 1.38). A escravidão bíblica era uma forma de associação e proteção feudal. O roubo de homens para propósitos de venda era estritamente proibido pela lei, de forma que aquilo que é popularmente conhecido como escravidão era crime hediondo (Dt 24.7), e Paulo reafirmou essa condenação e associou os “roubadores de homens” com os “devassos”, homossexuais, mentirosos, perjuros e hereges (1Tm 1.10). A menos que o fugitivo fosse um ladrão, um escravo poderia deixar a casa do seu senhor e poderia permanecer legalmente com qualquer pessoa em cuja casa ele tomasse refúgio (Dt 23.15, 16). O escravo tinha que ser tratado com respeito e cuidado (Lv 25.39). O princípio bíblico, “Digno é o obreiro do seu salário” (1Tm 5.18; Dt 25.4; 1Co 9.9; Lv 19.13; Dt 24.14s; Mt 10.10; Lucas 10.7), não é limitado somente ao trabalho livre; ele aplica-se a todos, escravos ou livres.
Um hebreu se tornava um escravo em termos estritamente regulados que exigiam que um companheiro de fé o tratasse como um irmão (Lv 25.39-43, 47-55). Um hebreu tornava-se um escravo, se, por achar difícil manter-se como um cidadão independente, vendesse seu trabalho a outro (Lv 25.39). Ele poderia tornar-se um escravo também por causa de roubo; a lei exigia restituição, de duas a cinco vezes, e se um ladrão não pudesse cumprir esses requerimentos, então ele era vendido por causa de seu roubo (Ex 22.3). Ele era então vendido como servo está que a restituição designada pela lei fosse cumprida. Os filhos assumiam a condição dos pais, escravo ou livre (Ex 21.14). Os hebreus escravos eram libertados a cada ano sabático, ou a cada sete anos (Ex 21.2; Dt 15.12), e o servo tinha que receber certa compensação que o capacitasse a iniciar sua liberdade com alguma posse (Dt 15.13, 18). A inobservância da lei do prazo sexenal era uma ofensa severa aos olhos de Deus (Jr 34.13-17). Se o servo hebreu não tivesse nenhum desejo de ser liberto e considerasse a casa do seu senhor como seu santuário, sua orelha era furada como sinal dessa sujeição e ele permanecia um escravo ou servo (Ex 21.6; Dt 15.17). No jubileu, todos os escravos, hebreus ou não, eram libertados, incluindo aparentemente aqueles com orelhas furadas (Lv 25.10). Escravos não hebreus poderiam recuperar sua liberdade a qualquer momento, bem como escravos hebreus, mediante resgate com dinheiro, ou se seu senhor os ferisse, mesmo que o golpe simplesmente arrancasse um dente  (Ex 21.6; Lv 19.20). O assassinato de qualquer homem, escravo ou livre, era uma ofensa séria (Lv 24.17, 29; Nm 35.31-32). A lei bíblica, dessa forma, era tal que torna-se compreensível o motivo pelo qual Lindsay prefere chamá-la de serviço obrigatório, e não escravidão.[2]
A partir da perspectiva bíblica, portanto, a escravidão não é intrinsecamente má em si mesma; o fracasso em viver como um homem livre, a dependência ou incompetência de uma mente escrava é, contudo, considerada como um caminho inferior. O crente não pode se revoltar contra a sua situação, mas ele não pode tornar-se um escravo em boa consciência, voluntariamente, pois qualquer forma de escravidão é uma violação dos direitos plenos de Cristo sobre ele (1Co 7.22, 23).
A apropriação privada de trabalho escravo na América do Sul tem sido assunto de extensa distorção. Os negros eram escravos de seus chefes tribais na África, ou escravos-prisioneiros de outras tribos. A unidade monetária na África negra era o homem, o escravo. O negro passou de uma escravidão especialmente severa, que incluía o canibalismo, para uma forma mais branda. Muito é dito sobre os horrores dos navios escravos, muitos dos quais eram extremamente ruins, mas é importante lembrar que os escravos eram uma carga valorosa e assim, uma propriedade normalmente manuseada com consideração. Um membro da comissão canadense legislativa registrou em 1847 que os imigrantes irlandeses estavam sendo transportados em navios carregados com o dobro de passageiros que o navio deveria levar, encolhidos em baixo das plataformas, com pouquíssima água e comida, e em condições “tão ruins quanto aquela do comércio escravo”.[3] A condição dos imigrantes irlandeses na chegada foi muito pior do que a dos escravos: eles não tinham nenhum senhor para alimentá-los ou vesti-los ou protegê-los. Os irlandeses mudaram de uma semi-escravidão na Irlanda para liberdade na América apenas uns poucos anos antes dos negros conseguirem emancipação. Após um século e um quarto, ou menos, os irlandeses eram um poder de liderança nos Estados Unidos, e os negros permaneceram nas posições mais baixas. A diferença básica entre os irlandeses e os negros não foi a cor: foi o caráter. Os negros exigiam maior cuidado, i.e., mais escravidão e assistência a escravos, e se abrigavam em seus sofrimentos.[4] Os irlandeses por sua vez olhavam para o presente e o futuro e ajudaram a modelar a América. Essa é uma diferença significante que não pode ser explicada completamente por cor ou ambiente. Os chineses também chegaram aos Estados Unidos sob circunstâncias muito difíceis e as sobrepujaram similarmente.
É importante observar também que os defensores sulistas da escravidão que precederam a Guerra Civil tiveram parte também na esperança de uma nova colonização. Em outras palavras, eles defendiam a legitimidade da escravidão americana enquanto esperavam terminá-la com emancipação e nova colonização. Muitas dessas sociedades existiam no Sul. O título de um livro do período é revelador: Bible Defense of Slavery; or the Origin, History, and Fortunes of the Negro Race [Defesa Bíblica da Escravidão; História, e Destino da Raça Negra], de Josiah Priest, to which is added a Plan of National Colonization, adequate to the entire remove of the free Blacks and all that may hereafter become free [à qual é adicionada um Plano de Colonização Nacional, adequada para a remoção total dos negros livres e de todos os que venham daqui em diante a se tornarem livres], de Rev. W. S. Brown, 1853. Alexander H. Stephens, vice-presidente da Confederação, observou que ele tinha que trabalhar para apoiar os seus escravos, alguns dos quais eram na verdade seus pensionistas e alvos de suas obras de caridade.[5]
Um retrato da escravidão em suas piores formas é em geral uma descrição dos mundos africano e muçulmano. Os abusos nessas áreas são muito reais.[6] Por outro lado, não poucos senhores são governados por seus escravos mesmo nessas culturas. Dessa forma, Fortie observou:
Os idosos árabes gentis da África Oriental eram governados por seus escravos. Eles aceitavam as repreensões e iras das suas mulheres bantus como visitações de Alá. Essas mulheres eram frequentemente as mães dos seus filhos. Consideradas meros campos arados que produziam uma descendência de sangue puro, elas eram seres humanos adoráveis, que possuíam e despertavam sentimentos de ternura, de modo que aquilo que era uma ficção expediente, na prática deu lugar às realidades de uma longa vida em comum.[7]
O viajante que passa, ou o estudioso, vê os males óbvios; o homem que permanece vê os fatores humanos que alteram todos os relacionamentos.
O direito de posse privada sobre o trabalho humano é menos comum e tem geralmente sido o aspecto menor da escravidão humana. Nos Estados Unidos, o direito de posse privada foi abolida pela Décima Terceira Emenda, em 1865, que declarava, na seção I, “Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito à sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição por um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado”. Com essa lei, a posse privada de escravos foi abolida, e com a Décima Sexta Emenda (1913), o Ato de Reserva Federal, e pelas interpretações da Corte Suprema, a escravidão tornou-se um monopólio do Estado.[8]
Essa é a segunda forma de escravidão, posse do Estado, que é bem mais prevalecente hoje e em cada era da história do que a primeira. As “glórias” do mundo antigo foram os produtos do trabalho escravo do Estado. Hoje, os países comunistas tornam todos os cidadãos escravos. Visto que escravidão é a propriedade sobre o trabalho do homem, sempre que essa propriedade sobre o trabalho torna-se a força determinativa e necessária na vida das pessoas, temos uma escravidão. Em quase todo o mundo hoje a cidadania está sendo substituída pelas obrigações da escravidão. Visto que a servidão involuntária é definida pela Constituição como equivalente à escravidão, todo empregador que é obrigado a manter livros e recolher impostos para o Governo Federal é dessa forma forçado a realizar servidão involuntária ou trabalho escravo.
O Estado escravizador fala muito dos privilégios de ser uma “nação livre”. Os estados africanos formados nas décadas de 1950 e 1960 estavam livres do colonialismo, mas, embora tenham se tornado tecnicamente nações livres, elas cessaram de ser um povo livre: seus cidadãos tornaram-se escravos do Estado.
O propósito da Constituição dos Estados Unidos era confirmar a liberdade do povo amarrando  o novo governo federal com as correntes da Constituição. O governo federal deveria ser acorrentados para que o povo pudesse ser livre. Hoje, é o povo quem está sendo progressivamente escravizado.
A terceira forma básica de escravidão é a escravidão espiritual, escravidão ao pecado e a Satanás. Satanás tem uma propriedade sobre o trabalho do pecador: é produtivo para ele e lhe serve. O fundamento da liberdade é Jesus Cristo, que declarou, “se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8.31, 32). As raízes da escravidão são espirituais: “Todo aquele que comete pecado é servo do pecado” (João 8.34). Tais homens são interiormente escravos, escravos do pecado. Um verdadeiro escravo sempre busca um senhor e a segurança de um senhor. A mente escrava deseja segurança, uma vida livre de problemas, uma segurança do berço-à-sepultura ou  do ventre-ao-túmulo,[9] e isso exige um senhor que lhe forneçam tais coisas. Após a Guerra Civil e a emancipação, muitos negros continuaram a exigir que os seus antigos mestres continuassem a cuidar deles. Uma família do Sul mudou-se para Nova Jérsei, sendo seguidas até ali por seus antigos escravos. Até 1915, quando a morte e a partida dos filhos desfizeram aquela família de Nova Jérsei, os antigos escravos e seus filhos e netos continuaram a depender daquela família e a retornar a eles quando doentes ou desempregados. Eles precisavam de um senhor. Hoje, milhões de negros, junto com milhões de escravos brancos, estão exigindo que o governo federal torne-se o “senhor de escravo” deles e forneça-lhes segurança e cuidado. A escravidão é uma economia do bem-estar; direito de posse privada é uma economia do bem estar mantida privadamente, e isso não é economicamente uma unidade sã de operação. Sob o direito de posse do Estado, a escravidão, uma estrutura de segurança social, é uma economia do bem-estar que carece da necessidade de operação bem-sucedida que o proprietário privado deve manter. O proprietário privado deve produzir lucro em algum lugar; Alexander H. Stephens conseguiu o seu lucro na advocacia e sustentou os seus escravos desse modo.  Por sua vez, o Estado detentor de escravos sobrevive por meio de confiscação progressiva até que a nação seja destruída.
Mentes escravas não são apenas mentes pecadoras, elas são culpadas também, movidas por culpa, cheias de vergonha e, portanto, com fome de refúgio e segurança. A política da culpa cultiva a mente escrava para escravizar os homens, e fazer com que o próprio povo exija um fim para a liberdade. Escravos, verdadeiros escravos, desejam ser resgatados da liberdade; o seu maior temor é a liberdade. A liberdade impõe um fardo impossível sobre eles. Carecendo da paz interior de uma boa consciência, eles buscam em vez disso a paz doentia de aceitação e coexistência com todo tipo de condição e mal.
O princípio da verdadeira liberdade é Jesus Cristo, que liberta os homens do poder do pecado e da morte e do fardo de culpa e vergonha, para que os homens tenham uma boa consciência perante Deus e uma independência em relação aos homens. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8.36).
A libertação e salvação de Jesus Cristo é do pecado e da morte. A salvação de César é da liberdade. A privilégio da vida em Cristo é a liberdade; o privilégio da vida sob César é a segurança. A segurança do cristão está em Cristo e na liberdade sob a lei de Deus. A segurança do escravo está no Estado e na escravidão. Mas o sistema de escravos não é seguro, nem permanente, pois “o servo não fica para sempre em casa”; mas “o Filho fica para sempre”, e aqueles que são membros dele têm a segurança eterna (João 8.35).
Básico à Escritura é a declaração repetida do direito de posse absoluto de Deus sobre o mundo, sobre o homem, e sobre o trabalho do homem. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). O crente não pode tornar-se escravo dos homens, pois ele é propriedade de Deus, e essa é a sua liberdade e vida. Ele não deve se revoltar, se está em cativeiro no tempo de sua salvação, mas deve buscar a liberdade legitimamente (1Co 7.21-22). Mas ele não pode tornar-se um escravo voluntariamente: “Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens” (1Co 7.23). O cristão, tendo sido comprado com o preço do sangue expiatório de Jesus Cristo, não pode permitir que o pecado, o homem, o Estado ou a Igreja o dominem ou o possuam. Somente o cristão pode ser um verdadeiro libertariano, e ele está sob uma obrigação religiosa de sê-lo. A escravidão para ele é um caminho de vida legítimo para o incrédulo: é a conclusão lógica da incredulidade e da escravidão ao pecado. Mas a vida do cristão deve refletir aqui e agora, em cada ato e instituição sua, “a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8.21, NVI).
A escravidão permanece, contudo, um caminho de vida legítimo, mas um caminho de vida mais baixo. A escravidão oferece certas penalidades bem como certas vantagens. Objetivamente, a penalidade é a entrega da liberdade. Subjetivamente, o escravo não vê a entrega da liberdade como uma penalidade, visto que ele deseja escapar da liberdade. Assim como uma criança receosa e medrosa teme o escuro, assim também a mente escrava teme a liberdade: ela é cheia dos terrores do desconhecido. Como resultado, a mente escrava apega-se  à escravidão estadista ou do Estado, à assistência social do berço-à-sepultura, assim como uma criança temerosa apega-se à sua mãe. A vantagem da escravidão é precisamente isso, a segurança no senhor ou no Estado. O socialismo é dessa forma um Estado escravagista, criado pelas exigências de um senhor pelos escravos. O escravo tem a mentalidade do farisaísmo, pois quer viver por vista, pelas obras, obras manifestas e visíveis que o assegurarão salvação. O escravo salva a si mesmo criando um Estado escravagista que oferece garantia visível de salvação do ventre-ao-túmulo contra os perigos da virilidade e liberdade.
A liberdade também oferece penalidades e vantagens. A penalidade central e essencial da liberdade é a insegurança e os problemas disso. O homem livre vive num mundo de mercado livre, de tentativa e erro, lucro e prejuízo, sucesso e fracasso. Ele deve estar preparado para arcar com as consequências do fracasso bem como com a prosperidade do sucesso. Sua segurança não está nos sinais visíveis de um Estado ou senhor guardião, mas na lei-ordem do Deus trino e invisível. Assim, o homem livre deve andar por fé, na confiança que Provérbios e tudo da Escritura é verdadeiro, que a lei-ordem de Deus vindica aqueles que andam pela fé, “como vendo o invisível” (Hb 11.27), que, crendo que Deus existe, “e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6), anda em fé, sabedoria, prudência e responsabilidade. Não é fácil andar por fé, e o mercado livre não resistirá por muito tempo à parte de um alicerce de fé. Então o empresário, operário e fazendeiro buscam a intervenção do Estado; eles buscam os privilégios do socialismo e da escravidão. A penalidade da liberdade é a necessidade de andar pela fé, mas é também um privilégio. Em última instância, nossa fé deve estar em Cristo ou em César, e é muito melhor andar por fé em Cristo do que andar por vista sob César.
A vantagem da liberdade é a própria liberdade, a liberdade vinda da responsabilidade e da virilidade, e a segurança da liberdade. Os homens ouestarão em serviço a Deus, ou estarão em serviço aos homens, e o serviço a Deus é a liberdade do homem e do temor do homem.
É necessário que cada geração seja recordada de sua escolha: escravo ou livre? Essa é uma escolha moral. Um homem deve escolher entre a segurança da escravidão e a segurança da liberdade. Escravidão é um estilo de vida: se os homens preferem-na, então que sejam honestos e vivem em termos de sua escolha. A liberdade também é um estilo de vida, e os homens que a desejam devem estar preparados para assumir suas responsabilidades e penalidades, bem como seus privilégios. Os homens não podem receber assistência social, passar pelo processo de falência, ou serem achados culpados de atividade criminosa, e mesmo assim reivindicar legítima e moralmente os privilégios da cidadania e o direito de participar no governo civil. Tais homens podem ser apreciados por muitos; podem ser algumas vezes homens amáveis, bem-intencionados, e os tais devem ser tratados com toda graça e caridade piedosas, mas eles não podem reivindicar moralmente os privilégios da liberdade. Mesmo um bom escravo é um escravo.
E, para o cristão, o mandamento é expresso de forma muito clara: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1). Toda invasão da liberdade, quer por escravos ou pelo Estado, deve ser resistida, e toda tentação pessoal em aceitar a segurança da escravidão deve ser vista como aquilo que é, pecado.
Fonte: Rousas John Rushdoony, Politics of Guilt and Pity (Vallecito, California: Ross House Books, 1970), p. 22-31.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – maio/2011.

[1] John Murray: Principles of Conduct, Aspects of Biblical Ethics, pp. 97-99. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1957.
[2] William Lindsay, “Slave, Slavery”, Patrick Fairbain, editor: Fairbairns’ Imperial Standard Bible Encyclopedia, vol 6. pp. 190-193. 1891. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1957.
[3] Cecil Woodham-Smith: The Great Hunger, Ireland 1845-1849, p. 228. New York: Harper and Row, 1962.
[4] “Next: A ‘Marshall Plan’ for Negroes?” U. S. News & World Report, vol. LX, nº 10, 7  de março de 1996, p. 46s.
[5] Veja Myrta Lockett Avary, editor: Recollections of Alexander H. Stephens, His Diary Kept When a Prisoner at Fort Warren, Boston Harbour, 1865, p. 226s. New York: Doubleday, Page, 1910.
[6] Veja Sean O’Callaghan: The Slave Trade Today, New York: Crown, 1961; Robin Maugham: The Slaves of Timbuktu, New York: Harper, 1961. Pode ser adicionado, contudo, que o negro sempre foi tratado de forma muito brutal por outros negros, e isso é tão verdadeiro antes como hoje. Dessa forma, “na conferência de Casablanca dos chefes de Estado africanos em janeiro de 1961, um delegado da República do Mali pediu ao representante da Líbia pela extradição de um chefe tribal de Mali que era acusado de liderar sua tribo inteira numa ‘peregrinação’, vendendo-a na ‘Terra Santa’, e então retirando-se para a Líbia a fim de viver uma vida pacífica com o dinheiro que tinha adquirido”; Youssef El Masry: Daughters of Sin, p. 127. New York: Macfadden, 1963. Sobre a escravidão na África, veja Gardiner G. Hubbard, “Africa, Its Past and Future”, The National Geographic Magazine, vol. I, nº 2, 1889, págs. 99-124, um relatório muito agradável.
[7] Marius Fortie: Black and Beautiful, A Life in Safari Land, p. 72. Indianapolis: Bobbs-Merril, 1938.
[8] Estudos liberais insistem em ver somente a propriedade privada de escravos como escravidão. A partir dessa perspectiva, o Estado então torna-se o salvador. Para uma análise liberal, veja David Brion Davis: The Problem of Slavery in Western Culture, Ithaca, New York: Cornelll University Press, 1966; e Barnett Hollander: Slavery in America, Its Legal History, London: Bowes & Bowes, 1962. Ambos são estudos competentes mas com uma visão simplista sobre escravidão.
[9] O autor usa um jogo de palavras aqui: “cradle-to-grave” e “womb-to-tomb”. [N. do T.]