quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Realidade Natural de um Regenerado - CAPÍTULO 1.1

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1        O Problema da Escravidão



Para tratar do problema da escravidão, uma atenção especial deve ser dada à carta escrita pelo apóstolo Paulo aos romanos. Em Vida Cristã Normal, Watchman Nee deixa claro seu pensamento a respeito da realidade natural de um regenerado, percebida principalmente nesta carta.  O autor comenta que, ao escrever esta carta, o apóstolo dos gentios tratava de um assunto principal - a justificação do pecador - sob duas perspectivas distintas que são vistas nos primeiros oito capítulos da mesma. Faz-se extremamente importante a percepção desta ênfase por parte do apóstolo para compreender qual era o pensamento dele a respeito da morte e ressurreição do pecador com Cristo.


1.1    a propiciação pelo sangue (Rm 1.1 – 5.11)



Watchman Nee introduz sua obra informando que, nesta primeira seção da carta, o apóstolo trata da justificação do pecador em termos de ações e não de natureza. Ele afirma que Deus não se preocupou apenas em perdoar as ações pecaminosas cometidas anteriormente por sua igreja – enquanto estava no império das trevas (1 Pe 2.9) - mas providenciou um meio para que tais ações não fizessem mais parte da vida de seu povo.
Para um melhor esclarecimento deste ensino, ele destaca duas expressões especiais que, a seu ver, fazem todo o sentido considerando a argumentação de Paulo na carta. São elas: O sangue de Cristo e a cruz de Cristo.
Segundo Nee, o apóstolo tratou, nesta primeira seção, daquilo que diz respeito ao sangue, relacionando-o mais particularmente com os atos pecaminosos e não com a natureza do pecador. Assim ele afirma:

O Sangue do Senhor Jesus Cristo é de grande valor para nós, porque trata dos nossos pecados e nos justifica a vista de Deus, conforme se declara nas seguintes passa­gens:
"Todos pecaram” (Rm 3.23); "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por Ele salvos da ira" (Rm 5. 8-9). "Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, me­diante a redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tole­rância, deixado impunes os pecados anteriormente come­tidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus." (Rm 3.24-26) (NEE, 1986, p. 09).

O derramamento do sangue de Cristo fez-se necessário pelos atos pecaminosos cometidos pela humanidade. Na visão de Watchman Nee o sangue do Messias tem essencialmente a função de purificação e satisfação da Justiça Divina. Desse modo, o sangue trata exclusivamente do aspecto forense da redenção. Deus, mediante a morte de seu Filho, satisfez a sua própria justiça pelos pecados cometidos por seu povo escolhido.
Posteriormente, Nee trata não apenas dos atos pecaminosos, mas de suas consequências segundo os escritos do Novo Testamento. Assim ele afirma:

 O pecado entra na forma de desobediência, para criar, em primeiro lugar, separação entre Deus e o ho­mem, do que resulta ser este afastado de Deus. Deus já não pode ter comunhão com ele, por agora existir algo que a impede, e que, através de toda a Escritura, é co­nhecido como "pecado". Desta forma, é Deus que, pri­meiramente, diz: "Todos... estão debaixo do pecado" (Rm 3.9). Em segundo lugar, o pecado, que daí em dian­te constitui barreira à comunhão do homem com Deus, comunica-lhe um sentimento de culpa — de afastamento e separação de Deus. Agora, é o próprio homem que, mediante a sua consciência despertada, diz: "Pequei" (Lc 15.18). E ainda não é tudo, porque o pecado oferece também a Satanás uma possibilidade de acusação diante de Deus, enquanto o nosso sentimento de culpa lhe dá ocasião para nos acusar nos nossos corações; assim, pois, em terceiro lugar, é o "acusador dos irmãos" (Ap 12.10), que agora diz: "Tu pecaste" (NEE, 1986, p. 08).

Aqui, ele ensina que as consequências do pecado no que diz respeito à humanidade devem ser percebidas sob três perspectivas, isto é, em relação: a Deus (a separação); a si próprio (o sentimento de culpa) e a Satanás (a acusação).
Em relação a Deus, o pecado provocou a perda da comunhão com o SENHOR. O primeiro homem, Adão, gozava de perfeita harmonia em seu relacionamento com Deus. Ele o havia formado à sua imagem e semelhança. O pastor Batista Reformado Glênio Fonseca Paranaguá faz uma observação interessante quanto a isto:

A Bíblia mostra que Ele [Deus] criou o homem reto e bom, mas o homem não era Deus. O homem era perfeito como homem, contudo, não era para viver independente de Deus. Criando-o como um ser totalmente dependente, e com vontade, abriria uma porta para o desejo de independência (PARANAGUÁ, 2002, p.30).

E esta independência foi o caminho escolhido pelo homem, o que trouxe como consequência, sua morte físico-espiritual. Considerando que o termo morte significa basicamente separação, o homem perdeu a comunhão que antes gozava plenamente com o SENHOR. Aquela comunhão perfeita foi completamente esfacelada.
Não obstante a isso, a queda do representante da humanidade significou também a entrada do pecado no mundo e o desfiguramento da Imago Dei (Imagem de Deus) no homem, como registrado na Confissão de Fé de Westminster, seção II: “Por [aquele] pecado eles [Adão e Eva] caíram de sua justiça original e de sua comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado, e totalmente corrompidos em todas as faculdades e partes da alma e do corpo” (HODGE, 1999, p. 153).
A queda da humanidade, registrada em Gênesis no terceiro capítulo também provocara a corrupção da natureza humana, isto é, da Imagem de Deus no homem.
Em relação a si próprio, as consequências do pecado trouxeram culpa ao homem:

Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi (Gn 3. 8-10).

O homem agora se esconde do SENHOR por haver pecado contra Ele e este sentimento pessoal de condenação pela desobediência o obriga a esconder-se de sua face. A culpa pelo pecado cometido o persegue. Agora, a sua consciência é aguçada pela sensação de que algo errado aconteceu, e ele, somente ele, foi o responsável por esta situação.
Em relação a Satanás, o pecado fez com que ele tivesse a oportunidade de acusar o homem por sua consciência e também perante o tribunal de Deus. Daí haver-se necessário a necessidade de um advogado.

Se, porém, andarmos na luz, como ele [Deus] está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. [...] Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo (1 João 1.7, 2.1).

O Sangue de Cristo é revelado nesta passagem como o purificador de qualquer ação pecaminosa e como o penhor da defesa de Cristo, no tribunal de seu Pai, contra qualquer juízo infamatório proferido pelo Diabo aos eleitos do SENHOR.
Quanto à sua própria consciência, o regenerado deve confiar que o sacrifício de Cristo foi suficiente para remi-lo de todos os atos cometidos, rejeitando assim, qualquer acusação ou provocação provinda do Inimigo contra ele.
Desta forma, Watchman Nee observa que a preocupação do apóstolo Paulo nesta primeira seção da carta aos romanos limita-se principalmente a ensinar sobre o poder e eficácia do sangue de Cristo para a solução dos pecados cometidos e as consequências provenientes dos mesmos.

Primeiramente, teve que ser resol­vida a questão dos nossos pecados, e isso foi feito pelo precioso Sangue de Cristo. Depois, tem que ser resolvido o assunto da nossa culpa e é somente quando nos é mos­trado o valor daquele Sangue que a nossa consciência culpa­da encontra descanso. E, finalmente, o ataque do inimi­go tem que ser encarado e as suas acusações respondidas. As Escrituras mostram como o Sangue de Cristo opera eficazmente nestes três aspectos, em relação a Deus, em relação ao homem, e em relação a Satanás (NEE, 1986, p. 08-09).

O sangue de Cristo tratou do problema da escravidão humana às consequências de seus pecados, por isso, o valor do mesmo é tão alto! Ele tem efeito tríplice: Perante Deus, tornando o status forense dos regenerados como justificados; Perante a consciência, fazendo com que qualquer sentimento de culpa ou julgamento seja completamente extirpado pela fé naquele sacrifício; Perante Satanás, que não pode mais intentar qualquer acusação contra os eleitos de Deus, pois é Ele mesmo que os torna justos. Deste modo a “salvação está em olharmos firmemente para o Senhor Jesus, reconhecendo que o Sangue do Cordeiro já solucionou toda a situação criada pelos nossos pecados” (NEE, 1986, p. 17).
Com o esclarecimento da eficácia e utilidade do sangue de Cristo na vida do pecador, podemos avançar no ensino da segunda seção encontrada na carta do apóstolo Paulo aos romanos.

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