sábado, 18 de junho de 2011

A Realidade Natural de um Regenerado - Capítulo 1.2

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1.2    A inclusão na crucificação (Rm 5.12 – 8.39)



Prosseguindo com a argumentação iniciada no tópico anterior, verifica-se que na primeira seção da carta ao romanos, segundo Watchman Nee, Paulo nos ensina sobre os efeitos objetivos e subjetivos do sacrifício de Cristo quanto aos “pecados”. Nesta segunda seção, Nee revela que a questão a ser trabalhada agora pelo apóstolo não são mais os atos, mas o Princípio do Pecado que atua no homem decaído. As expressões a serem consideradas agora são Carne e Velho homem.
O homem tornou-se pecador. Anthony Hoekema deixa claro que “para ser um pecador é preciso trazer a imagem de Deus – é preciso ser capaz de raciocinar, querer, tomar decisões; um cachorro, que não possui a imagem de Deus, não pode pecar. O homem peca com os dons que o fazem semelhante a Deus” (HOEKEMA, 1999, p. 101).
A imagem de Deus no homem foi pervertida e todas as suas faculdades terrivelmente deformadas. Apesar de continuar a ser homem, sua vida agora não é regida por livre arbítrio, mas pelo Princípio do Pecado que atua nele. Vejamos a explanação de Watchman Nee a respeito deste assunto.

Sejam quais forem os pecados que eu cometo, é sempre o princípio do pecado que me leva a cometê-los. Preciso de perdão para os meus pecados, mas preciso também de ser libertado do poder do pecado. Os primei­ros tocam a minha consciência, o último a minha vida. Posso receber perdão para todos os meus pecados, mas, por causa do meu pecado [o Princípio do Pecado], não tenho, mesmo assim, paz interior permanente. [...] o Sangue soluciona o problema daquilo que nós fizemos, enquanto a Cruz so­luciona o problema daquilo que nós somos. O Sangue purifica os nossos pecados, enquanto que a Cruz atinge a raiz da nossa capacidade de pecar (NEE, 1986, p. 05,06).

Este é o fato que o autor de A Vida Cristã Normal faz questão de enfatizar em todo o seu livro. O problema do homem pós-queda não se restringe apenas às suas ações, porque, na verdade, estas apenas transparecem aquilo que é de sua natureza, de sua “nova” essência manipulada. Ele é escravo daquilo a que foi sujeito por seu representante (Adão) e, por isso, não pode negar sua real natureza. Ele está espiritualmente incapacitado para fazer o bem. Daí fazer-se necessária uma operação radical para libertá-lo de sua atual condição.
Na concepção de Watchman Nee, o homem não-regenerado é escravo de sua própria vontade (a Carne ou, como dito anteriormente, o Princípio do Pecado). Esta vontade o aprisiona e o faz viver “segundo as inclinações da [sua] carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos” (Ef 2.3). Este homem não consegue fazer outra coisa que não seja satisfazer o princípio pecaminoso que rege sua vida. O problema não é apenas o pecado cometido, mas uma vida que só vive para pecar, satisfazendo as vontades do Princípio do Pecado!
Para a libertação deste homem, Paranaguá declara que o SENHOR teve de intervir de modo radical. Teve de libertá-lo de sua própria essência.

[...] a cruz é o único instrumento capaz de eliminar as raízes firmes e profundas [da Carne]. [A Cruz] é o instrumento cirúrgico que, amputando o pecado arrogante do ímpio e imputando a justiça singular do santo, restaura a glória perdida na queda em razão da presença do pecado na experiência do homem. [...] De fato, o grande milagre do evangelho é a remoção do pecado por meio da cruz, o perdão dos pecados por meio do sangue (PARANAGUÁ, 2002, p. 42, 43).

A remoção do pecado citado por Paranaguá não se trata da destruição do Princípio do Pecado no homem, mas da libertação do mesmo. Esta verdade precisa estar bem clara para a progressão em nosso estudo. O sangue representa o perdão dos pecados; a inclusão espiritual na cruz de Cristo e participação na Sua morte representa a libertação do Princípio do Pecado – a Carne – e não a destruição instantânea do mesmo.

Precisamos do Sangue pa­ra o perdão, e precisamos da Cruz para a libertação. [...] O Sangue pode lavar e tirar os meus pecados, mas não pode remover o meu "velho-homem". É necessária a Cruz para me crucificar. O Sangue trata dos pecados, mas a Cruz trata do pecador! [...] O Sangue nos perdoa pelo que fizemos; a Cruz nos liberta daquilo que somos (NEE, 1986, p. 19, 20, 21).

O que foi destruído na cruz foi o Velho homem, o escravo da Carne. Deus enviou seu Filho ao mundo não apenas para mudar o status forense da humanidade perante si - segundo Nee, isso é feito pelo Sangue - mas para transformá-la em uma nova criação aqui neste mundo - pela co-crucificação dela mesma com Cristo. “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. [...] E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5. 14,17).

Quando o Senhor Jesus estava na Cruz, todos nós morremos [objetivamente] — não indivi­dualmente [subjetivamente], porque ainda nem tínhamos nascido — mas, estando nEle, morremos nEle. "Um morreu por todos, logo todos morreram”. Quando Ele foi cru­cificado, todos nós fomos crucificados [no sentido espiritual] (NEE, 1986, p. 25, 26).

É em torno desta doutrina que gira todo o pensamento de Watchman Nee. A inclusão do pecador na morte de Cristo foi objetiva, ou seja, realizada no momento da crucificação do Jesus histórico. A aplicação dos efeitos desta obra na vida do pecador é subjetiva, ou seja, realizada no momento em que o pecador é regenerado pela ação do Espírito Santo.

Desafio qualquer pessoa a en­contrar um texto no Novo Testamento que nos diga ser futura a nossa crucificação. Todas as referências a ela se encontram no tempo aoristo do Grego, tempo que signi­fica "feito de uma vez para sempre", "eternamente pas­sado" (ver Rm 6.6, Gl 2.20; 5.24). E como um homem não poderia se suicidar nunca pela crucificação, por ser fisicamente impossível, assim também, em termos espi­rituais, Deus não requer que nos crucifiquemos a nós próprios. Fomos crucificados quando Ele foi crucificado, pois Deus nos incluiu nEle na Cruz. A nossa morte, em Cristo, não é meramente uma posição de doutrina, é um fato eterno (NEE, 1986, p. 26).

Os efeitos desta inclusão só se tornam experiência no homem quando este é regenerado pelo Espírito Santo e, assim, tem a Imago Dei restaurada em sua vida.
Com base nos argumentos bíblicos acima apresentados, Watchman Nee revela que a justificação do pecador tem dois aspectos distintos: perdoar as ações pecaminosas cometidas por este na sua “Velha Vida” e fornecer um meio para que a “Nova Vida” seja implantada nele pela regeneração.
Todavia, o autor de A Vida Cristã Normal deixa claro que estas não são as únicas questões a serem observadas. Ele ainda adverte que o cristão deve progredir tomando alguns passos para que experimente a realidade natural de um regenerado, assunto a ser abordado a partir de agora.

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