domingo, 19 de junho de 2011

A Revelação da Salvação em Cristo no Antigo Testamento - Capítulo 2.1


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2                   a graça salvadora no antigo testamento



Já vimos que o Messias tem um papel fundamental para entendermos como se desenvolveu a doutrina soteriológica no Antigo Testamento. Faz-se necessário, porém, um breve esclarecimento a respeito de posições contrárias a este ensino.
Alguns teólogos defendem que a salvação passou a ser pela graça após a manifestação de Jesus Cristo, mas, que até este momento, era efetuada exclusivamente pelo cumprimento das obras da Lei. Todavia, o que eles não entendem é que “o povo de Israel, libertado e escolhido pelo SENHOR, apresenta-se, desde o monte Sinai, como povo salvo pela graça de Deus [...].” (CRABTREE, 1960, p.187).  Não obstante, a posição destes estudiosos desconsidera textos utilizados pelos próprios escritores do Novo Testamento, referindo-se a passagens do Velho Testamento, que tratam a salvação do pecador como um benefício gratuito e imerecido de Deus por meio do arrependimento e fé no Messias que viria. Exemplo clássico é o texto utilizado pelo apóstolo Paulo na carta aos romanos que faz clara referência ao livro de Habacuque, cap. 2:4.

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego;  17 visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. (Rm: 1.16,17)

 Entretanto, esta não é a única prova. Apresentaremos abaixo, de forma ordenada pelas seções literárias do Cânon Vetero-Testamentário que, a redenção em Cristo, sempre foi o único meio de salvação humana.


2.1    A redenção no Pentateuco



Em Gênesis, a doutrina da redenção em Cristo, como vimos anteriormente, é percebida primariamente no capítulo: 3.15, quando Deus, após castigar justamente o homem e sua mulher, declara a Satanás que ele seria derrotado pelo descendente de Eva. A partir daí, o povo de Deus sabia que, um dia, o Redentor enfim Se levantaria para cumprir Sua missão.
Gerações mais tarde, através da descendência de Sete, percebemos que a esperança de redenção continuou viva entre os descendentes fiéis do SENHOR: “Lameque [...] gerou um filho; pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou.” (Gn: 5.28,29)
Considerando que Noé significa descanso, vemos que a esperança de Lameque com respeito a seu filho poderia ser, na verdade, uma evidência clara de que os descendentes de Adão aguardavam ansiosamente por sua redenção. E, de certa forma, Noé realmente foi usado por Deus para “remir” ou “preservar” a linhagem santa da grande corrupção em que se encontrava a humanidade. Deus renovou Seu pacto com Noé (Gn: 9.8). “A semente da mulher [após o dilúvio] foi não somente libertada, mas também mantida e restaurada à posição original de comunhão e vice-regência com o Soberano Senhor.” (GRONINGEN, 1995, p.112).
Posteriormente, com Abraão, Deus também manifestou a ele Sua intenção de cumprir a maldição lançada sobre a serpente, através de sua descendência. Quando o SENHOR aparece a ele na Mesopotâmia, lhe dá algumas ordens e promete bênçãos especiais, caso aquelas fossem obedecidas pela fé:

Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;  2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!  3 Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn:12.1-3)

A promessa redentiva é renovada e agora mais esclarecida. O propósito divino, na verdade, não era salvar (apenas) os descendentes biológicos de Abraão, mas todos aqueles, que compreendessem a mensagem redentiva no Messias e a aceitassem pela fé. Considerando que o Messias viria da descendência de Abraão, Deus afirma a este que vai usá-lo para abençoar todas as famílias da Terra.
Interessante que esta idéia é melhor compreendida no capítulo 17 de Gênesis, quando Deus renova Sua aliança com Abraão (chamado, até este capítulo de Gênesis, de Abrão). Ele diz que Abraão seria pai não apenas de uma grande nação, mas de numerosas nações. (Gn: 17.6)

Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus. (Rm: 2.28,29)

Como foi dito em um comentário da Bíblia de estudo de Genebra a respeito deste versículo: “Essa promessa não pertence [apenas] a Israel como nação, descrente [...] mas àqueles que crêem, e que estão, portanto, em Cristo.” (MARRA, 2009, p.33)
Quanto ao rito da circuncisão registrado neste capítulo, analisemos a interpretação feita por Van Groningen a respeito:

O rito da circuncisão teria de ser adotado como um sinal ou selo de tudo o que Deus disse que Ele era para Abraão e seria para sua semente (Gn: 17.10-14). A Palavra de Deus seria confirmada pelo derramamento de sangue e purificação do órgão de geração da vida. Particularmente, a prática do rito falaria da continuação da Palavra de Deus às gerações vindouras e por meio delas, isto é, através da semente. Em Gn 3.15 foi registrado que haveria um derramamento de sangue por meio do esmagamento e por parte da semente da mulher; de maneira semelhante, um futuro seguro para a semente da promessa não poderia ser considerado sem o derramamento de sangue. (GRONINGEN, 1995, p.127)

No capítulo 22 de Gênesis, a fé de Abraão é provada. Deus lhe pede Isaque como prova visível de sua confiança invisível. Além disso, Deus também quer ilustrar para Abraão a forma que Ele concretizaria o pacto da Graça feito com o homem desde a queda. Visto que, segundo a opinião divina, o sangue representa a vida (Gn: 9.4), o próprio Deus providenciaria o sacrifício substitutivo (vs: 13) que, por meio de Sua vida, traria redenção (libertação) a vida de outros (vs:12).
Na geração de Isaque, não foi diferente. O SENHOR continuou a confirmar Sua promessa de misericórdia para com as nações da Terra e renovou Sua aliança redentiva com ele dizendo: “Na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra;  5 porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou os meus mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis.” (Gn: 26.4b,5) O que Deus sempre quis por parte dos mediadores da aliança foi fidelidade e obediência.
Deus continuou a preservar o Pacto da Graça através de Jacó, descendente de Isaque. Interessante analisar que o SENHOR, ao renovar Sua aliança com o mediador seguinte, repetia quase que as mesmas palavras, mostrando que Seu propósito sempre foi o mesmo desde a queda: “Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Eis que eu estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei voltar a esta terra, porque te não desampararei, até cumprir eu aquilo que te hei referido.” (Gn: 28.14c,15)
A partir de Jacó, o crescimento populacional da nação de Israel se acelera. Com a disputa materna entre Lia e Raquel, Jacó torna-se pai de doze homens e uma mulher (Gn: 29.31-30.24 / 35.16-21). Desse momento em diante, o foco bíblico de preservação da semente Messiânica parece voltar-se para José, o filho mais amado de Jacó. Não obstante, é apenas uma “aparência”, porque, na realidade, ele continua em Judá:

“O livro de Êxodo começa com a história dos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó (Êx 1.1-6). Levantou-se um rei no Egito que “não conhecia José” (Êx 1.8) e José praticamente desaparece do relato daí por diante. Judá, ao contrário, é separado na profecia de Jacó para ser seu sucessor na linha da semente messiânica (Gn: 49.8-10).” (GRONINGEN, 1995, p.143)
  
Então, percebemos no cap. 38 de Gênesis, a preocupação do SENHOR em relatar a continuidade genealógica do redentor através de Judá e Tamar.
A história destes é bem simples: Judá havia se responsabilizado em providenciar o casamento de Tamar, sua nora, com seu filho mais novo, Selá. Judá não cumpre seu compromisso. Tamar, astuciosamente, organiza um meio de continuar sua linhagem (Já que havia em Israel uma expectativa muito grande por parte das mulheres em ser mãe do Messias – Lc: 1.28) e consegue enganar Judá, coabitando com ele. Deste relacionamento nasce Perez, que foi o escolhido de Deus para a preservação da Linhagem messiânica.
As Escrituras silenciam, a partir daí, registros mais detalhados a respeito da semente Messiânica. Só voltam a tocar no assunto no Livro de Rute.

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